Gone to the next level, Alice Skovle RIP




Por onde começar quando já sabemos o fim da história?
Escrevo aqui porque tenho mais uma coisa maravilhosa à dividir. Mais ou menos dez anos atrás, pouco tempo depois de ter chegado na Dinamarca, eu começava à ir passear pela cidade livre de Christiania, e é onde eu comecei a conhecer os meus primeiros amigos brasileiros aqui da Dinamarca. Um dia destes, que eu não me recordo, conheci a Alice, que na época morava em Østerbro e trabalhava na loja de antiguidades (sobre tudo livros, que eu me lembro), que na época ainda era do esposo dela. Me lembro de ter tido um breve tempo onde eu falava com ela no telefone, e acho que cheguei a ir para a casa dela duas vezes, uma delas sendo um dia onde a Alice tinha começado uns encontros para discutir textos filosóficos.
Não sei se eu cheguei a cantar para ela esta vez, só sei que todas as outras vezes que eu encontrava ela, 99% dos casos no clube de Jazz da Christiania, e que ela me apresentava para amigos ela sempre comentava que eu cantava bem, perguntava se eu estava usando a minha voz etc. Alice não foi uma pessoa que estava perto na minha vida, más ela foi uma referencia, e quando eu ia pra Christiania ouvir um jazz ou para uma festa brasileira, eu sempre sábia que teria grande chances de encontrar ela, e sempre os meus olhos a procuravam. Alice botava um acento nos meus talentos, e nos momentos difíceis onde eu comentava com ela de magoas do coração e da vida, ela soube levar a minha atenção para coisas felizes ou engraçadas. Por exemplo comentando dos amores dela, ou do tempo em que ela trabalhava com música e shows no Brasil e, se eu me lembro bem, na Alemanha. Alice sempre tinha um amigo ou uma amiga para apresentar, e quando o meu pai veio me visitar, menos de um ano antes da partida dele, ela também lhe mostrou muito amor e carinho, mesmo se ele ficou sem graça e não sabia como reagir.
Este é o meu pequeno conhecimento desta grande pessoa.
Sábado, duas semanas atrás, a vida levou ela para um outro mundo e pelo jeito foi uma partida rápida e sem dores, de manhã. E a minha opinião é que foi um dia perfeito para a partida dela, porque a mesma noite tinha festa brasileira na Christiania, com o clube do samba tocando, e desta forma a maioria das pessoas que tinham uma relação com ela, próximas ou menos próximas, tiveram a oportunidade de ficar sabendo, e de estar juntos. Esta noite de samba foi esquisita, mais, para mim pelo menos, depois de ter tido o choque e dançado as mágoas para fora, a noite terminou na paz e na esperança.
Duas semanas passaram até que, depois da família dela ter liberado o corpo dela, foi possível fazer uma cerimônia de enterro para ela, e sobre tudo para nós que ficamos.
E que coisa linda foi esta festa de adeus!
Uma hora da tarde os amigos e próximos dela se encontraram no cemitério de Kastrupvej e o ritual começou. O público, brasileiros, músicos e christianitas que á amavam teve direito à uma cerimônia linda com um padre falando em inglês, palavras que faziam sentido e só mandavam pensamentos bonitos para os caros amigos e a cara falecida. Uma coisa que ele disse e que me foi repetida mais tarde, e na qual acredito, é que a morte é mais difícil para estes que ficam. Estes que foram já foram, e só necessitam nosso amor e carinho para ter uma passagem feliz.
O segundo ato do enterro foi musical, lógico, onde a galera do jazz tocou umas músicas para expressar os sentimentos e dar mais um presente para nos todos.
Depois o enterro se louco-moveu para Christiania, levando as flores do cemitério para jogar elas no lago, onde o vento as levava pra mais perto dos patos e cisnes, como se queria ilustrar a partida. Alguém me contou que o vento também levou a cerveja dele, como se fosse apagar a sede da nossa amiga.
A próxima etapa foi no Opera da Christiania, onde todos tiveram a oportunidade de sentar juntos e apagar as sedes e compartilhar diversos sentimentos e lembranças, enquanto a noite caia sob o resto do mundo afora e o vento fazia estrelas de fogo fugir dos barris de fogo na pusherstreet.
Um amigo músico da Alice, se eu me lembro trompetista, botou palavras num sentimento que eu não estava conseguindo ilustrar verbalmente, falando " E engraçado como a vida é, as vezes a partida de uma pessoa é necessária para as outras em volta se aproximarem"
A partida da Alice realmente reuniu diversos sangues bons que provavelmente nunca foram juntados desta forma. E ela resultou num dia mágico, onde todos, por causa da grande falta que estávamos compartilhando, estavam de corações abertos. Um dia sinceramente lindo que provavelmente terminou muito tarde para outros, se ainda tiver terminado, pois depois do Opera a festa continuou no Teatro das Crianças/Clube do Jazz, onde teve samba, jazz e feijoada.
Alice, eu te agradeço por ter me apresentado tanta gente bonita ontem e por ter me puxado pra cima.




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